Nas últimas semanas, todos que participam das redes sociais acompanharam a polêmica sobre as três jovens estudantes da faculdade de Bauru (SP) que zombaram de uma colega de 40 anos, dizendo: “Gente… com 40 anos não pode fazer faculdade, tem que estar aposentada”. O vídeo viralizou e gerou muita revolta entre a maioria das pessoas. Não me surpreendi muito com a atitude das jovens, pois não canso de achar que essa nova geração tende a pensar que o mundo começou no dia em que eles nasceram. É um pensamento bem limitado e pequeno, mas infelizmente é o que se vê em muitos jovens universitários.
Etarismo
Tal forma de pensar e este tipo de atitude, incluem-se no que chamamos de etarismo ou ageismo, definido como preconceito, discriminação e estereotipagem contra pessoas devido à idade. Nos Estados Unidos, o termo é discutido desde a década de 1960 e, na Europa, recentemente novas leis foram criadas contra a discriminação etária na esfera profissional.
Infelizmente, no Brasil, o termo ainda é pouco conhecido, tendo ganho maior destaque após esse episódio. O termo “ageism” foi usado pela primeira vez pelo gerontologista Robert Butler, para descrever a discriminação contra idosos, mas hoje pode ser usado para se referir a preconceito e discriminação baseado na idade (qualquer idade).
Tipos de etarismo
Um estudo da Universidade de Michigan (EUA), realizado em 2019, categorizou três tipos principais de etarismo, após consultar pessoas entre 50 e 80 anos de idade sobre suas experiências com isso no dia a dia: exposição a mensagens etaristas, etarismo nas relações interpessoais e etarismo internalizado, referindo-se às crenças pessoais sobre envelhecimento e idosos. A forma mais prevalente foi a exposição a mensagens etaristas, que ocorreu com 65% dos entrevistados. A idade entre 65 e 80 anos sofreu mais com o etarismo, assim como as mulheres mais do que os homens. A diferença entre os sexos nesta questão é bem evidente, basta lembrarmos que, para o senso comum, “homem grisalho é um charme” e “mulher com cabelos brancos é desleixada”.
Consequências
O impacto do etarismo é grande na saúde física e mental da população idosa. Está ligado a problemas como isolamento social, piora da saúde geral e redução de expectativa de vida. A Organização Mundial da Saúde estima que 6,3 milhões de casos de depressão no mundo podem ser atribuídos ao etarismo.
Também se observou que a discriminação por idade é interligada com outros tipos de preconceito, como sexo, raça e presença de deficiência. Existem, ainda, vários estudos evidenciando que a crença estereotipada sobre o declínio cognitivo ligado à idade causa a diminuição da performance cognitiva. Isto é, temos a tendência a subestimar a capacidade cognitiva dos idosos, o que contribui, justamente, para a diminuição desta.
Podemos combater o etarismo?
Podemos e devemos. De acordo com vários pesquisadores sobre o assunto, existem três formas básicas para isso: política e leis endereçadas à discriminação e desigualdade por causa da idade, atividades educativas que desenvolvam empatia, respeito e desfaçam preconceitos e intervenções intergeracionais envolvendo pessoas de diferentes gerações, diminuindo os estereótipos. Vale lembrar que a cultura oriental, tão admirada hoje em dia por vários grupos de jovens, reverencia, respeita e cuida de seus idosos. A velhice lá é sinônimo de sabedoria.
CURIOSIDADE
Então, para aquelas meninas de Bauru e outros jovens que acham que pessoas de 40 anos não podem fazer faculdade, alguns fatos interessantes:
Freud criou a psicanálise aos 50 anos
Darwin publicou A Origem das Espécies aos 50 anos
Guttemberg inventou a imprensa após os 50 anos
Ray Kroc fundou o McDonalds aos 52 anos
Henri Nestlé criou a farinha láctea aos 52 anos
John Pemberton criou a Coca-Cola aos 55 anos
Pablo Picasso pintou seu quadro mais famoso, La Guernica, aos 56 anos
José Saramago escreveu suas melhores obras após seus 60 anos
Charles Flint criou a IBM aos 61 anos
Roberto Marinho fundou a TV Globo aos 61 anos